quinta-feira, 21 de março de 2013

Um Movimento que Luta Contra...



Vinicius Gomes de Oliveira

Em Recife, o mês de janeiro de 2012 foi marcado por protestos contra o aumento das passagens de ônibus e metrô, e como sempre entidades estudantis tomaram a dianteira do processo que deveria ser um movimento autonômo e sem líderes, como propôs, sem êxito, Rosa de Luxemburgo na antiga e extinta URSS. As entidades estudantis, mais que qualquer outra coisa, lutam para ter mais voz ativa que outras entidades dentro do movimento, deixando assim um vácuo onde deveria existir debates a respeito da organicidade, das ações, das perdas e ganhos do movimento contra o aumento das passagens; vácuo que é protamente ocupado por uma mídia medonha e uma polícia defensora da ordem sistêmica.

É fato que as entidades estudantis são um anexo dos partidos políticos e militam alinhadas aos interesses destes, e por isso o protesto não se transforma em um movimento. Os militantes vão as ruas com o propósito maior de rebaixar a aprovação popular dos governistas e alavancar oposicionistas, deixando a luta contra o aumento das passagens como pano de fundo e gerando uma incorência logo percebida pelos adeptos da ideia do protesto, que seguem os grupos estudantis com suas bandeiras. Essa tragédia instrumental culmina numa completa divergência, podendo ser entendida na prática através dos atos dos que estão a protestar; uns jogam pedras, outros cospem em câmeras de TV, outros brigam para falar ao microfone e, o que deveria ser uma ação social racional transforma-se em emoções à flor da pele. Protestar movido por emoções em tempos de racionalidade instrumental é ir as ruas para fracasar.

Defesas são lançadas sob o argumento da unidade, da coesão do movimento. Frágil e utópico é como devemos adjetivar esses argumentos, pois não é possível haver coesão em um movimento - se é que podemos considerar um movimento os referidos protestos - tendo em vista que pessoas o compõe, e somente por isso, sempre haverá discrepância, o que é saudável e necessário para todo e qualquer movimento. Mesmo assim os líderes desses grupos insitem em discutir uma tal política em moldes representativos, deixando à margem a parcela que ainda deseja participar dos processos de tomada de decisão. Isto só atenua a coesão que aqueles defendem, a unidade do movimento tão desejada e tão repelita pelos pseudo-líderes que discursam a favor de mudanças; mudanças que beneficiam a ideologia de seus partidos, de seus movimentos abtutivos que objetivam apenas a gestação de novas gerações de políticos.

Pensar um movimento social enquanto a representação social de um rede social semi-aberta é um trabalho árduo e necessário. Árduo por que há de se encontrar muita força atuando em sentindo contrário, lutando para que não ocorra de maneira democrática-participativa, na qual o povo tem voz e poder. Necessária por que esse modelo de democracia-representativa não mais satisfaz as necessidades de nossa sociedade inseguramente pós-moderna, pois o povo está conquistando conhecimento, esclarecimento, poder e assim fazendo valer a máxima de Dom Helder Câmara: "Se engana aquele que pensa que o Povo não pensa, pois o Povo pensa". Um dia esse Povo não mais suportará todo mau caratismo predatório da sociedade política.


Texto de Vinicius Gomes de Oliveira

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